Ano: 2012
IC17 - CRIL Lisboa
Existe um rito mágico pelo qual a chuva é invocada e propiciada regando a poeira seca da terra. Da mesma forma o universo é invocado e propiciado como quando é construída uma casa. A casa é a reconstrução do espaço do universo, como a água derramada na terra é a reconstrução da chuva.
A fotografia sempre foi, e hoje é mais do que nunca, um rito mágico: cada vez que a realidade mágica da fotografia é perdida a fotografia também está perdida.
[...]
A fotografia vive nessa coexistência de invocação e presunção, vive por vontade mágica, reconstruindo de acordo com os pedidos, as cadências e o procedimento meticuloso do rito, o grande e caótico espaço do universo, e vive estabelecendo por símbolos estáticos e petrificados, levantados contra o céu, o signo da presença humana, isto é, o signo da convenção humana.
O rito da fotografia é feito para tornar real um espaço que não era real antes do rito.
Um espaço é real quando é sólido em atributos e carregado de significados, quando é condensado - como um caldo - de presenças e sugestões, quando côa - como uma cor densa - de surpresas e transformações, quando fica pálido nas sombras e corrompido na luz.
[...]
A fotografia, como um rito que reconstrói o espaço universal, é como um espaço universal, luz e cor acima de tudo e a sua estrutura é uma estrutura cromática. Não é, como o credo da fotografia de hoje quer, uma estrutura colorida.
“O Espaço real - Para um Bauhaus imaginista contra um Bauhaus imaginário” Ettore Sottsas 1956 (modificado trocando a palavra Arquitectura por Fotografia)
* * * *
Sebastiano Raimondo (Gangi – Italia, 1981).
Concluiu os seus estudos de Arquitectura na Faculdade de Palermo em 2013, com um projecto fotográfico realizado na cidade de Lisboa “Uma ponte - la fotografia come forma di abitare il mondo e construirlo”. Em 2014 fundou o grupo “Presente Infinito” com cinco amigos fotógrafos na cidade de Nápoles. Com eles editou o livro homónimo, criou várias exposições na Itália e no estrangeiro e o projeto coletivo "Napoli - nuova luce". Vive entre Portugal e Itália, dando continuidade à sua investigação artística e estudos em fotografia no Doutoramento em "Arquitectura dos territórios metropolitanos contemporâneos" do ISCTE-IUL em Lisboa. Publicou fotografias e textos para: Passagens, Caleidoscópio, Lisboa 2013; Lições de Arquitectura, Circo de ideias, Porto 2017; Sophia, edições Scopio Porto 2018 e 2019; Edizioni Caracol, Palermo 2019; Sacred, Urbanautica Institute 2020; Palermo/Periferie, Academia de Belas Artes de Palermo 2020. Leciona fotografia na Academia de Belas Artes de Palermo desde 2018/19.
Deixe o seu comentário