Centro Comercial Martim Moniz, Abril-Maio 2006.
O Centro Comercial foi construído em plana praça do Martim Moniz, , num local onde se situava uma boa parte do antigo bairro da Mouraria, demolido na década de 1940 para permitir a expansão da Avenida até à Baixa. O local ficou vago, sucederam-se muitos anos sem solução definitiva, sendo construídos diversos barracões provisórios para comércio. Até que finalmente surgiu uma iniciativa municipal de construir um Centro Comercial, mas quando todos pensávamos que alguma coisa interessante iria surgir naquela zona todas as esperanças caíram por terra: o novo edifício, semelhante a um barracão, não poderia ter sido mais descuidado, mais feio e de pior qualidade, um projeto que envergonha qualquer aprendiz de arquiteto. Passados todos estes anos o edifício ainda lá está, quase na mesma, mas o interior vale a pena ser visitado, são lojas de baixa qualidade, envolvendo sobretudo os habitantes radicados em Lisboa e provindos do Paquistão, Índia, Nepal, países africanos, Ucrânia. É expressamente proibido fotografar o interior e todas as minhas tentativas foram goradas pela intervenção pronta e zelosa dos seguranças. Até que em 1998 decidiu-se que seria importante para o Arquivo Municipal de Lisboa ter algumas fotografia deste local, pelo que foram solicitadas oficialmente as devidas autorizações pela CML, e foi assim que lá entrei. Nas imagense aparecem as famílias que ali trabalham, e praticamente ali vivem, com as suas lojas, desde perfumes, roupa chinesa, malas, discos, arte africana, cabelos postiços, bandeiras. A estranheza e relutância inicial das pessoas evoluiu rapidamente para uma maior receptividade e até cooperação com o projeto. Estive com eles, vi-os trabalhar, conversar, jogar, passar pelas brasas, no local de trabalho. Vi-os chorar, rir, ralhar com as crianças, conversar, comer as suas iguarias, porque os vendedores fazem daquele espaço as suas casas e o seu mundo.
Luis Pavão, (Lisboa, 1954). Licenciado em Engenharia Eletrotécnica, IST, Lisboa,1981 e Master of Fine Art on Photography, Museum Studies, pelo Rochester Institute of Technology, 1999. Desde 1991 exerce o cargo de conservador de fotografia, no Arquivo Municipal de Lisboa. Desenvolve atividades letivas no ARCO em Lisboa e no Instituto Politécnico de Tomar, desde 1990 até 2014, leciona disciplinas de processos fotográficos históricos e conservação de fotografia nos programas de licenciatura e mestrado em fotografia desta escola. Sócio fundador e gerente da empresa Luis Pavão Limitada, desde 1982 é especializada na conservação e digitalização de coleções de fotografia, com responsabilidade técnico cientifica na realização de vários projetos de conservação, descrição e digitalização de coleções de fotografia de várias instituições.
Principais Publicações:
Conservação de Colecções de Fotografia, Dinalivro, Lisboa, (1997),
Tabernas de Lisboa, Assírio e Alvim, Lisboa, (1981),
Fotografias de Lisboa à Noite, Assírio e Alvim, Lisboa, (1983),
Lisboa, em vésperas do Terceiro Milénio, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002,
Fado Português, EAR BOOKS, Edel Classics, GmbH, 2005.
Evora Urbe Aurea, CM Evora, Junho 2019.
Pela fresca sombra das árvores de Lisboa, CML, 2021.
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