Ano: 2019
Concelho: Lisboa, Torres Vedras e Sintra.
No conjunto de fotografias que compõem Physis, Carina Martins afasta-nos do regime diurno determinado pela razão instrumental moderna, favorecendo uma digressão dos sentidos para além do imediatamente visível e levando-nos a percorrer uma certa geografia da noite e da penumbra. A perspectiva linear do olhar cognitivo (ocularcentrismo) perde a sua frontalidade, a visão torna-se periférica e à racionalidade sucede a afecção. Enquanto que em projectos anteriores o referente fotográfico se inscrevia sob uma luminosidade diurna, Physis, aproxima-nos agora de outras formas de vida, procurando, sob a cintilação da noite, a matéria vibrante constitutiva de todas as substâncias. Nestas circunstâncias, a ausência de luz solar intensifica a existência espectral das coisas e essas presenças reais tornam-se manifestas em cada uma das imagens. Entre o limiar urbano e civilizacional do antropoceno e o imenso território da bioesfera, a fotógrafa realiza uma investigação visual ao epicentro da luz nocturna e dos seus ecossistemas, elogiando a sombra dos lugares habitados por uma miríade de organismos minerais, vegetais e animais.
Rui Ibañez Matoso, Setembro 2019
Carina Martins, vive e trabalha em Lisboa.
Licenciou-se em Tradução de Inglês-Alemão pela Universidade Católica e, em 2016, concluiu o Curso Avançado de Fotografia no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual. Trabalha principalmente com fotografia e vídeo, explorando as paisagens industriais, a natureza, os lugares perdidos. Num processo de descontextualização e apropriação desses elementos, interessa-se pela desocupação humana dos lugares, na quietude, em formas geométricas e ficcionais. Tem exposto com regularidade desde 2008.
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