Este projecto teve origem num convite da Fundação Cupertino de Miranda através de Bernardo Pinto de Almeida - conhecedor do meu percurso na fotografia, e que me tinha já escrito uma belíssima introdução para o livro Linha de Costa, entendendo que o meu interesse pelas temáticas da paisagem e sua transformação se adequavam a uma zona que enfrentava então uma grave crise na sua indústria tradicional, a indústria têxtil. Como refere Jorge Fernandes Alves, “o Vale do Ave, pelas características estruturais e potencialidades industriais, constituiu um pólo de atracção de iniciativas empresariais e de capitais que se traduziram na criação um tecido industrial difuso, em que os cursos de água demarcam as linhas da implantação fabril. (in A Indústria Têxtil do Vale do Ave, in Património e Indústria no Vale do Ave. Vila Nova de Famalicão: Adrave, 2002). Contudo, o desenvolvimento da indústria algodoeira no Vale do Ave, sob a forma de grandes unidades industriais modernas, encontra-se, ainda ligada aos baixos custos de produção que a abundância de recursos hídricos possibilita, pela mão de obra barata, a que não é alheia a significativa densidade populacional, às inovações na produção de energia e ao aparecimento e disseminação das ligações ferroviárias. Por tudo isto, deparamo-nos no Vale do Ave com um processo de industrialização único, onde “a identificação de modelos do pré- e proto-industrial reforçam a continuidade de actividades e reapropiação mútua de modelos na fase de industrialização, conferindo ao Vale do Ave lugar próprio no conjunto das paisagens industriais.” (Providência, Paulo, “Um olhar sobre o Vale do Ave”, in Património e Indústria no Vale do Ave. Vila Nova de Famalicão: Adrave, 2002)
Em síntese, como refere Diana Ferreira na sua Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura do Departamento de Arquitectura (FCTUC, Janeiro 2014), “a procura por uma ordem na formação da actual paisagem do Vale do Ave pressupõe um olhar que vai para além da mera contemplação visual. Ao percorrermos hoje em dia esse território somos confrontados com diversas estruturas muito díspares - umas de carácter mais oficinal, outras claramente industriais – testemunhas de uma longa e persistente relação do Homem com o meio. Nesse sentido, não se deve menosprezar a influência qua a ocupação medieval e pré-indutrial, determinada por factores naturais, como relevo, clima,hidrografia e culturais, tiveram nos processos mais recentes de industrialização e, consequentemente,de uma nova paisagem.”
Este trabalho foi apresentado pela Fundação Cupertino de Miranda nos Encontros da Imagem de Braga de 2001 e, posteriormente, na Galeria
ImagoLucis no Porto.
José Afonso Furtado (Alcobaça, 1953).
Licenciado em Filosofia (FLUL). Curso de Formação no Instituto Português de Fotografia (1981-1984), onde veio a assegurar, durante alguns anos, a Cadeira de História de Fotografia. Exerceu a sua actividade profissional em organismos governamentais na área da Cultura, tendo sido Presidente do Instituto Português do Livro e da Leitura (1987-1991). Posteriormente assumiu o cargo de Director da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (1992-2012). Expõe desde 1984. Publicou vários livros fotográficos, designadamente Das Áfricas (com Maria Velho da Costa). Difusão Cultural, 1991; Os Quatro Rios do Paraíso (com Clara Pinto Correia e Cristina Castel-Branco), D. Quixote, 1994; Linha de Costa (prefácio de Bernardo Pinto de Almeida), Contemporânea Editora, 1996; Canada do Inferno (introdução de Maria do Carmo Serén) Edição do Autor, 2005 e Contaminações — Minas Abandonadas (Fotografias 1994-2009) com Ensaio de Maria do Carmo Serén. Lisboa: Documenta, 2019. Traduziu a obra On Photography de Susan Sontag: Ensaios sobre Fotografia, Quetzal, Lisboa, 2012. Está representado nas Colecções do Instituto Camões (Ministério dos Negócios Estrangeiros), do Centro de Estudos de Fotografia de Coimbra, da Fundação Belmiro de Azevedo, da Fundação PLMJ, da Colecção Nacional de Fotografia do Ministério da Cultura, do Musée de L'Élysée, Lausanne e do Département des Estampes et de la Photographie da Bibliothèque Nationale de France.
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