O arquipélago era assolado por inúmeros terramotos e erupções vulcânicas. Uma ilha onde se está só entre pedras negras e um verde denso. Um caminho feito lentamente, ao som de orações, num mantra envolvente e pacificador. Desde o século XVI vários grupos de homens percorrem, em romaria, a ilha de S. Miguel, num movimento circular no sentido dos ponteiros do relógio, mantendo o mar sempre do seu lado esquerdo. Um culto religioso com séculos de tradição. Restrito a homens dos oito aos oitenta. A presença do feminino torna-se visível na indumentária dos romeiros. O xaile, o lenço nas costas, o bordão e a cevadeira - adereços que encontramos em comum nesses homens. Rostos de traços vincados por um arquipélago à deriva num oceano. Os terços. As orações. A fé. A busca da paz interior. O acalmar dos terramotos. O apaziguar das tormentas. Oito dias de comunhão com a força da natureza, sacrificando o corpo pela fé, purificando a mente pela introspecção.
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João Ferreira, Leiria (1976).
Entre 2011 e 2020 habitou entre Portugal e a China. A fotografia acompanha-o num percurso paralelo a todas as suas outras actividades, desde a década de noventa, de forma autodidacta, tendo participado em algumas oficinas. Os temas dos seus trabalhos são dedicados à fotografia documental, focando a identidade das comunidades. Autor dos projectos, 1.3 Billion (China 2011-2014), Arquipélago (Cabo Verde 2015-2017) e O Paraíso Segundo José Maria (S. Miguel, Açores 2016-2019). No ano de 2016, o seu trabalho foi seleccionado pela agência Magnum em parceria com a Canon para a leitura de portefólios no Visa Pour l’Image em Perpignan, França, foi finalista do Prémio Revelação nos Encontros da Imagem - Braga, e recebeu uma menção honrosa no Tokyo International Photo Awards, Japão. Em 2017 foi vencedor do Prémio Fotojornalismo Estação Imagem, na categoria vida quotidiana. Expõe regularmente desde 2012, dentro e fora do país, estando o seu trabalho representado em diversas colecções.
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